A West Highland Way é uma trilha de longa distância que atravessa as Highlands, as Terras Altas da Escócia. As Highlands formam uma das paisagens mais emblemáticas do Reino Unido, repleta de histórias e lendas.

A ideia de percorrer a West Highland Way surgiu por acaso para nós. Durante uma viagem pelo Reino Unido, descobrimos essa trilha e fomos sem pesquisar muito. Ficamos admirados com a paisagem e muitas vezes parecia que estávamos no meio de um filme. Não por acaso, as Highlands foram cenário de muitos filmes (007 Skyfall, Coração Valente, Highlander) e a região ficou famosa recentemente devido a série Outlander.

Veja também o vídeo que fizemos sobre a nossa experiência na trilha:

Como é a West Highland Way

A West Highland Way possui 154 km e segue de Milngavie – em Glasgow – até Fort William, onde encontra-se a montanha mais alta do Reino Unido, Ben Nevis. Essa rota passa por uma série de paisagens selvagens ao longo do caminho, entre lagos, pântanos, morros, montanhas e campos e é uma ótima apresentação das Highlands na Escócia. 

Consideramos também um ótimo roteiro para quem quer iniciar nas trilhas de longa distância, por não apresentar grande dificuldade técnica. Mas não subestime a trilha: a caminhada é dura e encontramos algumas adversidades no caminho.

A possibilidade de fazer camping selvagem foi o que mais nos atraiu para fazer essa travessia. Passar uma noite na barraca em um lugar completamente deserto é algo único. Durante um longo trekking isso é melhor ainda, pois você não precisa programar antes onde tem que dormir. É só encontrar um espaço para armar a barraca e parar por ali mesmo. São raros os lugares na Europa que permitem essa atividade – normalmente existe uma multa alta para quem faz camping selvagem – e a Escócia incentiva essa prática.

West Highland Way, trekking na Escócia

Etapas da West Highland Way

A caminhada é dividida em 8 etapas. Todas as etapas terminam em um ponto de apoio com hospedagem. Glasgow é a porta de entrada da trilha que começa em Milngavie e termina em Fort William. Você pode fazer a trilha em qualquer sentido. Nós escolhemos de sul a norte e achamos que é o melhor sentido pois os cenários mais bonitos ficam para o final e você pode subir o Ben Nevis se estiver com disposição.

Veja nosso trajeto:

1. Milngavie a Drymen: 19 km

A primeira etapa da West Highland Way parece só uma forma de chegar até trilha, não é um cenário muito animador para começar. O caminho segue bem plano pelas Lowlands, passando por muitas fazendas e rodovias. Nesse primeiro dia vimos muitos jovens percorrendo a trilha, especialmente casais, mas também grupos de escoteiros. Conhecemos um croata que estava fazendo a trilha com seu cachorro e caminhamos muitas vezes juntos pela frente. 

Acampamos pouco depois de Drymen, em uma clareira perto de um pequeno lago. Assim que paramos notamos uma quantidade absurda de insetos que grudavam nas nossas pernas e braços. Foi nosso primeiro contato com os midges, que ainda nos causariam muitos transtornos. Montamos tudo correndo e pulamos para dentro da barraca ao mesmo tempo que uma chuva forte começava a cair. Chuva e insetos, duas das maiores dificuldades da West Highland Way. Ficamos aliviados por ter um abrigo depois de um longo dia. 

Loch Lomond National Park

2. Drymen a Rowardennan: 22.5 km

Essa etapa entra no Parque Nacional Loch Lomond e a paisagem começa a ficar mais selvagem. Logo no início dessa etapa, a trilha passa perto do topo da Conic Hill, um morro com vista panorâmica para o Lago Lomond. A Conic Hill não é muito alta, são 360 metros, nada muito desafiador. Após a descida da Conic Hill, entramos na área com restrição de camping chamada Camping Management Zone. Caminhamos até o final da zona para encontrar um ponto para acampar. Esse trecho segue pela margem do lago em meio a florestas de carvalho. 

3. Rowardennan a Inverarnan: 22.5 km

Na terceira etapa continuamos caminhando pela beira do lago. Paramos no chique Hotel Inversnaid somente para carregar as baterias dos equipamentos. Notamos um aviso na porta do hotel dizendo que a trilha estava totalmente fechada após o hotel, devido ao mau tempo. Eles recomendaram pegar um ferry que leva ao outro lado do lago e continuar de ônibus até o final dessa etapa. Não queríamos ter que sair da trilha e decidimos seguir até onde desse. Nossa ideia era ver se encontrávamos alguém caminhando no sentido contrário para perguntar sobre as condições. Após Inversnaid, o terreno fica mais irregular, mas não encontramos nenhum obstáculo.

Encontramos duas meninas que nos informaram que tinha uma ponte totalmente caída na próxima etapa, mas era fácil atravessar o rio com água nos joelhos. Mesmo se tivéssemos seguido a recomendação do hotel, teríamos que atravessar essa ponte. No final dessa etapa existe outra restrição de acampamento que termina pouco depois de um camping pago. Caminhamos até tarde debaixo de chuva, e acampamos logo antes da ponte caída.

Cachoeira no Parque Loch Lomond, na Escócia

4. Inverarnan a Tyndrum: 19.5 km

Nesse trecho vimos alguns sinais da destruição causada pelas chuvas. A trilha acompanha o Rio Falloch, que mostrava sua força com suas cascatas. A ponte que cruza o rio estava em péssimas condições, com um sinal de interdição, mas não havia outro caminho para passar. Tivemos que arriscar. Nessa etapa pequenas vilas são mais constantes e começamos a acompanhar de longe uma rodovia e a linha do trem. Pouco antes de Tyndrum, encontramos um cemitério tão antigo que era impossível ler as datas nas suas lápides. Tyndrum é um bom ponto para abastecer os suprimentos, com um bom mercadinho. Montamos acampamento no meio da próxima etapa.

Trekking na Escócia

5. Tyndrum a Inveroran: 14.5 km

Muitas montanhas imponentes começam a aparecer nessa etapa. Em alguns momentos lamentamos pela trilha seguir na mesma direção da rodovia, deixando de ter aquela sensação de isolamento. Mas quando entramos na barraca e os últimos caminhantes passam por nós, esquecemos da estrada no fundo e nos sentimos sós.

Depois de Bridge of Orchy, o caminho se junta a uma Antiga Estrada Militar. Depois de atravessar um bosque e começar a subir, temos uma vista do Lago Tulla antes de chegar a Inveroran.

6. Inveroran a Kingshouse: 16 km

Pouco após Inveroran passamos por um dos trechos mais remotos da West Highland Way. Um ótimo ponto para passar a noite em meio a natureza selvagem. As montanhas verdes nos acompanham a todo momento, parece que fomos transportados para um filme. 

Montamos nossa barraca perto do Hotel em Kingshouse, onde existe um banheiro público com chuveiro para os caminhantes.

Paisagem nas Highlands da Escócia

7. Kingshouse a Kinlochleven: 14.5 km

Deixamos Kingshouse com uma chuva fraca que rapidamente virou uma pequena tempestade. Os ventos fortes quase nos derrubavam, mas ficamos contentes em perceber que o vento estava nos empurrando para frente. Caminhar contra o vento teria sido um grande esforço.

Passamos por algumas das montanhas mais altas do Reino Unido, muitas com mais de 1.000 metros de altitude. Logo no início caminhamos de frente para Glen Coe, uma montanha imponente, no mesmo ponto onde foram filmadas cenas do filme 007 Skyfall.

Seguimos para a Devil’s Staircase, a Escadaria do Diabo. Com algum esforço e muito frio, encaramos a subida em zig-zag nos levou ao ponto mais alto da travessia, a 550 metros. A longa descida do outro lado da montanha nos leva ao vilarejo de Kinlochleven, onde chegamos debaixo de uma chuva torrencial. Tivemos que parar em um bar onde esperamos a chuva passar para continuar.

Glencoe, montanha na West Highland Way

8. Kinlochleven a Fort William: 24 km

A última e mais longa etapa começa com uma subida íngreme. Após atingir uma passagem de alta altitude pelas montanhas, a trilha serpenteando em meio a montanhas altas e campos verdes. Tivemos o privilégio de acampar em meio a um dos lugares mais remotos da West Highland Way, ao lado das ruínas de uma casa de pedra abandonada, somente com a companhia de ovelhas durante a noite.

Após esse ponto, a trilha segue por campos e bosques e a montanha mais alta do Reino Unido, Ben Nevis, começa a aparecer no horizonte. A todo momento nos aproximamos do pico, enquanto começamos a descer em direção a Fort William. Seguimos direto até a cidade, onde terminamos a nossa caminhada de 7 dias e 154 km.

Vista do Ben Nevis durante a West Highland Way, Escócia

A sensação de chegar é quase tão boa quanto começar, mas rapidamente sentimos falta de caminhar em meio ao desconhecido. Voltamos de ônibus até Glasgow e pela mesma estrada que tanto amaldiçoamos e vimos. Em menos de 3 horas, passamos pelos mesmos cenários que demoramos tantos dias para percorrer a pé. Ahh Bonnie Scotland, foi uma bela surpresa.

Gostou das dicas? Tem alguma dúvida? Deixe uma mensagem nos comentários =)

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6 COMENTÁRIOS

  1. Parabéns pelo relato. Eu pretendo fazer este trekking no próximo ano.
    Foi tranquilo o acampamento selvagem? Alimentação, água potável….. a trilha está bem indicada? Desde já, grato.

    • Oi, Samuel. Tudo bem? Legal, essa trilha é bem diferente.
      É muito fácil fazer camping selvagem por lá e tem muita gente viajando do mesmo jeito.
      É legal, pois acabamos encontrando as mesmas pessoas pelo caminho. Não é difícil de encontrar pontos para armar a barraca, só recomendo estabelecer um horário para montar acampamento, pois às vezes temos que caminhar um pouco mais até encontrar um bom ponto. A trilha é bem demarcada e sinalizada, mas ajuda ter um mapa offline para se orientar em alguns pontos. Se for acampar, vale a pena levar comida e fogareiro para cozinhar, embora você encontre algumas lojas e restaurantes no caminho, então não precisa caminhar carregando as provisões para todos os dias. Tem muitos pontos de água, mas nem todos são confiáveis. Alguns riachos tem a água bem escura e gosto de ferro. Ajuda se tiver como filtrar ou purificar a água. Já estávamos escrevendo outro artigo tirando também outras dúvidas que vamos postar em breve.
      Fizemos um vídeo no youtube onde contamos mais sobre a experiência, não deixe de assistir 😉
      Grande abraço! Charlico e Larissa

  2. Olá Casal. Fiz essa trilha com meu sobrinho tambem. Em 2016. Muito linda e diferente. Acabamos nao acampando, mas teria sido uma boa opção. Baixei um aplicativo, Trekright, que achei excelente, dando todas as informações, altimetrias, locais de interesse, etapas, tempo, kms, etc. E o que é melhor, funciona offline.
    Meu senão, foi que não é uma trilha para chegar no local e encontrar vaga. Ela é uma trilha muito concorrida. No primeiro dia tivemos que improvisar. Depois passei a reservar todos os dias.
    Vale muito a pena.
    Parabens pelo post.

    • Oi Jose! Que legal, é mesmo uma trilha bem diferente! Dessa vez conseguimos ir com menos peso que nas Dolomitas e conseguimos aproveitar mais. O problema é a chuva e os insetos hehehe… mas super recomendamos, um grande desafio. Obrigada por compartilhar sobre o aplicativo, não conhecíamos. Grande abraço, Charlico e Larissa

  3. Olá, casal. Delícia ler o relato de vcs. Eu e meu marido amamos fazer trilhas tbem. Fizemos o Caminho de Santiago de Compostela em 2017 e a trilha Inca no Peru em 2018. Mas sonhamos também em fazer esse caminho da Escócia. Pretendemos fazer em junho deste ano, mas temos algumas dúvidas. Bjs e obrigada!

    • Oi Rubiane! Tudo bem?
      Que bacana! Esses circuitos de trekking devem ser incríveis, ainda não fizemos.
      Qualquer dúvida que tiver sobre a West Highland Way, pode perguntar aqui ou no vídeo do Youtube.
      Assim as dúvidas podem ajudar também outros viajantes =)
      Beijo grande, Lico e Lari.

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