Se você gosta de explorar lugares menos conhecidos, certamente vai se surpreender com a região formada pelo Saco do Mamanguá, Cajaíba e Ponta da Juatinga. Essa área faz parte de uma grande reserva natural muito bem preservada em Paraty, Área de Proteção Ambiental do Cairuçu. O que poucos sabem é que existe uma longa trilha conhecida como Travessia da Juatinga e Saco do Mamanguá que consideramos um dos melhores circuitos de trekking do Brasil!

A região está localizada na Costa Verde, litoral sul do Estado do Rio de Janeiro que inclui também destinos como a Ilha Grande.

Vídeo no nosso canal sobre essa caminhada

Saco do Mamanguá, um fiorde tropical

O Saco do Mamanguá é um verdadeiro paraíso na costa do Rio de Janeiro, um dos cenários mais surpreendentes do Brasil! Sua formação é curiosa, um braço de mar com 7 km de comprimento em meio as montanhas e mangues de Paraty. Ele pode ser definido como um fiorde tropical, o único no país. Não é preciso ir para a Noruega para conhecer um fiorde, temos um bem aqui e com praias paradisíacas de águas quentes, cercadas por montanhas e florestas.

Conheça o estilo de vida dos caiçaras

Essa região em Paraty é um lugar sossegado, onde a vida parece ter parado no tempo. Os moradores locais, os caiçaras, têm uma vida simples e sabem tirar do mar ou da terra o seu sustento. Você pode passar dias conversando com um nativo, que sempre vai ter história para contar.

A Dona Dica, na Praia Grande da Cajaíba é uma grande representante da região. Teve uma vida dura de muito trabalho e hoje ainda administra junto com os filhos um bar simples na Praia Grande e um camping na sua casa. Já visitamos o lugar algumas vezes e não cansamos de ficar longas horas só conversando com ela e sua família na beira da praia.

Travessia da Juatinga e Saco do Mamanguá, um trekking para se apaixonar

Tivemos a oportunidade de explorar essa região algumas vezes e esse é um dos nossos destinos preferidos no Brasil. A possibilidade de fazer uma travessia de longa distância em meio a cenários como esse faz com que esse seja um dos melhores trekkings do Brasil na nossa opinião.

A caminhada é realizada em média de 7 dias e são cerca de 70km em meio a praias paradisíacas, cachoeiras e no imperdível pico do Pão de Açúcar.

Algumas praias, especialmente a Praia do Sono e Martin de Sá já são destinos mais conhecidos e ficam lotadas durante feriados como o Ano Novo e o Carnaval. Mas esse trekking ainda não é muito conhecido e você vai encontrar poucos aventureiros durante a caminhada e em praias menos badaladas.

Opções de trekking na Juatinga e Saco do Mamanguá

Existem opções diferentes de início e fim na travessia da Juatinga e Mamanguá e também algumas variações no trajeto principal. Os principais destinos que não estão na trilha principal são o Pico do Pão de Açucar, a Cachoeira do Saco Bravo, a piscina natural do Cairuçu, a Praia da Sumaca e o Farol da Juatinga. Os dois primeiros são imperdíveis!

Travessia de Paraty Mirim a Laranjeiras

O roteiro tradicional começa em Paraty Mirim e dura 5 a 7 dias. A trilha segue pelo Saco do Mamanguá até a Praia do Curupira, onde é preciso pegar um barco para atravessar o fiorde, normalmente até a Praia do Cruzeiro. A trilha segue então para a região da Cajaíba e Juatinga, terminando pela Praia do Sono e Laranjeiras. Essa travessia não é circular e os ônibus locais chegam no ponto de início e fim da caminhada. Fizemos esse roteiro na nossa primeira visita à região.

Travessia de Laranjeiras a Ponta da Foice

Esse foi o roteiro que escolhemos na nossa última viagem. É um trajeto circular, com início e término em Laranjeiras, na Vila do Oratório, o que facilita bastante para quem está de carro. A trilha da Ponta da Foice é mais usada por moradores, mas também é um bom acesso para quem quer ir do Saco do Mamanguá a Laranjeiras.

Como foi a nossa experiência

Na nossa última viagem pela região, saímos do Rio de Janeiro com o objetivo de chegar à praia do Sono. Esse é o sentido inverso ao tradicional, mas não existe muita diferença e a primeira trilha é curta, possível de ser feita mesmo de noite. No entanto, pegamos mais trânsito do que imaginávamos e muita chuva na estrada. Adiamos a caminhada para o dia seguinte e dormimos em Trindade, no carro mesmo.

1º dia: Praia do Sono, Antigos, Antiguinhos e Ponta Negra

Depois de uma noite mal dormida com mosquito no carro e um pessoal falando alto de madrugada, acordamos bem cedo. Fomos direto para Laranjeiras e paramos o carro no estacionamento do Jeremias na Vila do Oratório (R$20 a diária com 1 dia de graça). Começamos a trilha em direção a Praia do Sono e vimos muita gente esperando perto do início da trilha. Ficamos impressionados com a quantidade de gente que seguia para o Sono. A trilha começa com uma boa subida, com degrau e corrimão. O caminho é bem aberto e de fácil orientação. Fizemos em pouco mais de 1 hora e paramos um pouco na praia para tomar um café da manhã.

Não pretendíamos pernoitar na praia do Sono e seguimos então em direção à Praia de Ponta Negra, passando por Antigos, Antiginhos e Cachoeira da Galhetas. Chegamos em Ponta Negra em cerca de 2 horas. Almoçamos no restaurante da Biquinha (do Leley) e montamos acampamento no Camping do Leley, logo atrás do restaurante. Só tinha mais uma barraca no camping quando chegamos. Aproveitamos o final da tarde para curtir a praia enquanto rolava uma partida de futebol caiçara.

Oratório – Sono: 1h10 / Sono – Ponta Negra: 2h.

Gastos: Estacionamento (R$30) + PF (R$30 por pessoa) + Camping (R$30 por pessoa)

2º dia: Cachoeira do Saco Bravo

Cachoeira do Saco Bravo na Ponta da Juatinga, Paraty

Acordamos cedo e seguimos para a trilha que exige um pouco de preparo e tem trechos confusos. A subida inicial é um pouco mais exigente e depois alterna subidas e descidas mais leves. Já tínhamos tentado chegar até a Cachoeira alguns anos antes, mas erramos a trilha naquela época e paramos em uma casa abandonada. Não conseguimos encontrar a trilha certa e tínhamos pouco tempo no dia, então voltamos.

Dessa vez levamos um GPS com o trajeto e não teve erro. Chegamos no Saco Bravo em 1h40min. O trecho final é um pouco complicado, mas duas cordas fixas facilitavam o acesso. Não demos muita sorte com o tempo. Assim que chegamos na cachoeira começou a chover um pouco, mas o lugar é incrível e vale a pena conhecer de qualquer jeito. Ficamos pouco tempo por causa da chuva e voltamos em um ritmo um pouco mais lento. Dormimos mais um dia em Ponta Negra para pegar a trilha mais pesada no dia seguinte.

Ponta Negra – Saco Bravo: 3h40 ida e volta

Gastos: Estacionamento (R$30) + PF (R$30 por pessoa) + Camping (R$30 por pessoa)

3º dia: Trilha até Cairuçu das Pedras e Martim de Sá, o grande desafio da travessia

A trilha tem cerca de 12km e começa com uma subida bem íngreme, alcançando 580m de altitude, sem uma reta para descansar. Pouco após o início, encontramos um casal voltando que tinha desistido da trilha pela dificuldade, mas eles contaram que não estavam acostumados a fazer trilhas longas. Conseguimos manter um bom ritmo e alcançamos o topo da trilha com apenas uma breve pausa. Encontramos três grupos nesse trecho fazendo a travessia da Juatinga no sentido contrário, todos começando por Martim de Sá.

Chegamos na Praia de Cairuçu e decidimos ficar um pouco por lá. Foi uma linda descoberta! A praia é super charmosa e tem uma piscina de água doce construída pelos moradores, pertinho do mar. Isso mesmo, uma piscina de água natural e borda infinita de frente para uma praia paradisíaca. Os moradores apenas deixaram uma caixinha e um recado pedindo a contribuição dos visitantes.

Depois de renovar as energias, seguimos para Martim de Sá por uma trilha bem tranquila. Chegamos ao tão famoso Camping do Seu Maneco e estava bem cheio, mas mesmo assim tinha bastante espaço. Almoçamos no restaurante do camping e ficamos um tempo na praia.

Ponta-Negra-Cairuçu: 3h30m / Cairuçu-Martim: 1h20m.

Gastos: Estacionamento (R$30) + PF (R$30 por pessoa) + Camping (R$30 por pessoa)

4º dia: Trilha até a Praia Grande da Cajaíba passando por Pouso, Itanema, Calhaus e Itaoca

Praia Grande da Cajaíba em Paraty

A primeira trilha, até o Pouso, é ótima e dá para curtir bem a caminhada. Chegando no topo do morro, após uns 40min de trilha, tem a bifurcação para a Praia da Sumaca. Foi um dos poucos destinos que deixamos de conhecer, ficou para a próxima.

Paramos um pouco em Pouso e tentamos comprar alguma coisa na padaria, mas achamos os preços bem elevados. As demais trilhas não são difíceis, mas o sol pode castigar, pois os trechos são muito abertos. Não desanimamos e fomos devagar com a dificuldade do calor. Pouco após a praia de Pouso, uma trilha segue para a pequena praia da Toca do Carro. Visitamos essa praia em outra oportunidade e vale a pena conhecer.

Somos apaixonados pela Praia Grande da Cajaíba. Adoramos conversar com a Dona Dica, uma das caiçaras mais tradicionais da região, e sua família. A Dona Dica tem mais de 75 anos e possui um bar/restaurante na praia. Como de costume, ficamos no Camping que ela construiu no seu quintal. Apesar de ficar a 1,5km da praia, é um lugar com uma energia inigualável. A Dona Dica dorme na praia nos dias em que o bar está com mais movimento. O local é repleto de plantas frutívoras como caju, abacaxi e limão. Pertinho da casa, existe um rio muito limpo, cheio de pitu.

Martim-Pouso: 1h20m / Pouso-Praia Grande: 2h.

Gastos: Estacionamento (R$30) + PF (R$30 por pessoa) + Camping (R$40 por pessoa)

5º dia: Descanso na Praia Grande e visita à Cachoeira

Cachoeira na Praia Grande da Cajaíba em Paraty

Aproveitamos o dia todo para curtir a praia, conversar com a Dona Dica e visitar a cachoeira que fica só a 15min da praia. Depois de chegar na primeira queda você pode continuar subindo o rio para encontrar outra cachoeira, bem maior que a primeira. Dormimos sozinhos no quintal da Dona Dica com uma forte ventania de madrugada. Cenário um pouco sinistro… hehehe

Gastos: Estacionamento (R$20) + PF (R$30 por pessoa) + Camping (R$40 por pessoa)

6º dia: Trilha até a Praia do Cruzeiro no Saco do Mamanguá, passando pela Praia do Engenho

Fomos acordados pela Lalá, cachorrinha da Dona Dica. Ela subiu sozinha de manhã, pois ficou assustada com o vento. Foi engraçado pois estávamos brincando com ela quando o Charlico tropeçou no chinelo e ela saiu correndo chorando em direção a praia. Nos despedimos dessa família maravilhosa que sempre encontramos com muita alegria e partimos para o Saco do Mamanguá.

A primeira trilha, até a Praia do Engenho, é a mais difícil. Tem uma subida de 400m e partes mais fechadas. Na última vez que passamos por aqui tivemos muita dificuldade, mas dessa vez foi bem mais fácil, pois levaram energia para a região e tiveram que abrir a trilha para instalar os postes de luz. A “trilha” do Engenho ao Cruzeiro é confusa e boa parte é de cimento. Esse trecho parece até mais longo do que de fato é, por ser uma área mais residencial.

Chegamos na Praia do Cruzeiro, uma das maiores comunidades do Saco do Mamanguá. O Camping do Seu Orlando é o mais conhecido. A diária estava R$30 por pessoa e consideramos caro. Assim descobrimos o Camping do Denilson que fica logo atrás ao terreno do Orlando, no quintal de uma casa azul. Não tem muita estrutura, mas conseguimos nos virar.

Depois descobrimos o Camping do Preá, mais perto da igreja e sem dúvida ficaríamos lá se soubéssemos antes. Seu Preá é muito simpático, ficamos um bom tempo de prosa com ele. Almoçamos no restaurante Cruzeiro, uma das melhores refeições que fizemos, com farofa de banana e salada com manga.

Estacionamento (R$30) + Camping do Seu Orlando (R$35 por pessoa) + PF (R$30 por pessoa)

Praia Grande-Engenho: 2h / Engenho-Cruzeiro: 2h.

7º dia: Pico do Pão de Açúcar e Cachoeira do Rio Grande

Saco do Mamanguá, fiorde tropical em Paraty
Saco do Mamanguá

Nesse dia seguimos para o Pico do Pão de Açúcar (425m). É uma subida bem íngreme, mas a vista do topo compensa. Podemos ver o Saco do Mamanguá inteiro. Descemos e fomos direto em direção à Cachoeira do Rio Grande, no fundo do Saco. A trilha é longa, mas bem plana.

Paramos rapidamente na Vila do Baixio de Dentro e conhecemos o José, um senhor que trabalha com taxiboat. Combinamos com ele de nos levar até a Ponta da Foice, onde começa uma trilha até a Vila do Oratório. Continuamos em direção à cachoeira e o cenário muda bastante, entrando em mata fechada. Chegamos então ao Rio Grande, ponto onde normalmente chega-se de canoa ou caiaque. Atravessamos o rio e continuamos até o Poço da Cachoeira. Esse é o ponto mais visitado, mas um pouco depois existe uma cachoeira mais imponente. São só mais 5 minutos de trilha.

Voltamos, almoçamos no mesmo restaurante do dia anterior, com direito a uma jarra de suco de maracujá 🙂 .. Desmontamos acampamento e esperamos o José nos buscar na praia do Cruzeiro. Debaixo de muita chuva, chegamos na Ponta da Foice em 15 minutos. Terminamos a travessia até a Vila do Oratório. A trilha é muito bonita e plana. Caminhamos o tempo todo debaixo de chuva forte.

Terminamos a travessia totalmente realizados. Foi a nossa 4ª visita à região e nunca tínhamos conseguido concluir a travessia por falta de tempo. É possível concluir em até quatro dias, mas em um ritmo mais rápido, sem muito tempo livre para curtir a região.

Cruzeiro-Pico do Pão de Açúcar (425m de altitude – 1h30 ida e volta) + Cruzeiro-Cachoeira do Rio Grande (3h total) + Ponta da Foice-Oratório: 1h15m.

Gastos: PF (R$30 por pessoa) + Barco (R$20 por pessoa)

Resumo da travessia

Gastos (duas pessoas):

  • Estacionamento: R$180
  • Camping: R$420
  • Alimentação: R$420
  • Gasto total: R$1.020,00 para o casal
    Valores atualizados em janeiro de 2022.

– Outra opção para o trajeto de barco é seguir até a Praia Grande do Mamanguá (mais perto do Cruzeiro) ou Curupira e fazer uma outra trilha mais longa para o fundo do saco que encontra com a trilha da Ponta da Foice. O barco até a Praia Grande vai ser um pouco mais barato.

– Existe uma trilha bem fechada da Cachoeira do Rio Grande que também encontra com a trilha da Ponta da Foice, mas recomendam o uso de facão para abrir o mato. Preferimos não arriscar.

Espero que você tenha gostado de conhecer um pouco mais sobre esse destino ainda pouco conhecido no Rio de Janeiro. Se tiver qualquer dúvida, pode escrever pra gente.

Gostou das dicas? Tem alguma dúvida? Deixe uma mensagem nos comentários =)

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3 COMENTÁRIOS

  1. Muitíssimo obrigado pelas dicas vcs são 1000. Parabéns energia contagiante do casal..em março vamos fazer esta travessia da ponta da joatinga pela 3 vez..abraços

    • Que demais Valter! Somos muito apaixonados por essa região toda. Queremos explorar cada cantinho aí também… Adoramos a mensagem. Abraço, Lico e Lari

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